Duas fazendas no interior de São Paulo são pioneiras num tipo promissor de negócio. Dessa vez não se trata de um cultivo novo, mas uma forma inovadora de obter crédito com condições vantajosas. Situadas nos municípios paulistas de Itirapina e Iaras (214 km e 285 km, respectivamente, distantes da capital), as fazendas da empresa Rizoma Agro emitiram títulos verdes em setembro deste ano. Elas foram as primeiras propriedades rurais do mundo a emitir um título verde para financiamento de projetos de agricultura. A certificação foi feita pela Climate Bonds Initiative (CBI), organização britânica que comprova padrões sustentáveis em todo o mundo. Os títulos verdes ou green bonds são títulos de dívidas para financiar projetos de estímulo ao desenvolvimento sustentável, voltados, portanto, para preservação do meio ambiente e mitigação de mudanças climáticas. Eles ganham cada vez mais força no mercado internacional e são oportunidade para o agronegócio brasileiro que é bem posicionado para esse tipo de investimento. Alexandre de Arruda Botelho, CFO da Rizoma Agro, afirma que as fazendas conseguiram emitir o título verde no valor de R$ 25 milhões porque adotam boas práticas agrícolas desde o início de suas operações.
Para se enquadrar e ser apto a emitir um título verde, o produtor rural precisa atender a critérios determinados por um sistema de classificação de práticas sustentáveis (taxonomia). Há parâmetros para aumento de biodiversidade, quantidade de sequestro de carbono nas áreas de plantio, retenção de água, se a propriedade rural está livre de desmatamento ilegal, por exemplo, entre outros. Nas fazendas contempladas, os cultivos são feitos com as técnicas de agricultura regenerativa e orgânica e não só se abstém de emitir gases de efeito estufa que provocam as mudanças climáticas, como também retiram da atmosfera 45 toneladas de carbono por hectare por ano. Esse tipo de manejo preocupado com o meio ambiente ainda aumenta a biodiversidade e torna as lavouras mais resilientes à escassez hídrica quando comparadas com as lavouras convencionais. Nos 1.200 hectares totais das duas propriedades são cultivados grãos como milho, soja e feijão, e também limão tahiti, entre outras culturas. A nova fonte de financiamento vai custear a irrigação de 550 hectares de plantação, o que vai aumentar a área de plantio por possibilitar o cultivo de feijão no inverno, por exemplo, e também será incentivo para a expansão da fábrica de biofertilizantes já existente na propriedade rural. “Queremos mostrar que a produção regenerativa orgânica é escalável, é um negócio. Temos certeza de que essas boas práticas são tendências crescentes e nosso objetivo é sermos impulsionadores deste movimento no Brasil. Observamos um consumidor que olha cada vez mais para questões climáticas e que procura produtos orgânicos. Mas hoje o consumo de produtos orgânicos ainda sobe mais do que a própria produção de orgânicos”, observa Botelho.